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Texto de sala

 

“Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem esculpida, nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou em baixo na terra, ou mesmo nas águas que estão debaixo da terra…” Ex 20:3-4

 

E os homens e mulheres, temendo que a Sua voz não voltasse a soar, louvaram-No nas coisas visíveis. Ritualizaram os dias para adoração, criaram coreografias para sentir a Sua presença, ofereceram holocaustos de fruta e animais e caminharam pela terra repetindo o Seu nome. E foi de tal forma longa intensa esta oração coletiva, tão ritmada a liturgia diária, que o quotidiano se instalou e homens e Deus se apartaram. Os homens chamaram vida ao que assim faziam, e Deus chamou-lhe mundo.

Trazidas para este espaço de forma circular, para esta cripta de holocaustos e adorações contemporâneas, as telas de Ludgero Almeida narram a vida pública de um povo. A partir de fotografias inominadas e avulsas o pintor converte em paisagens e figuras, em movimentos de dança e de contemplação, a essencialidade ritual, produzindo a ilusão de vermos o povo de Deus, esse povo primordial que em tudo se confunde com o que somos. Se atentarmos com cuidado reconheceremos todos os retratados. Somos nós, os filhos de Édipo, de olhos vazados, cumpridores da Lei que a ninguém mais adoraram, cegos, sem alcançar reconhecer o rosto do Criador.

 

Elisa Santos, 2015

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