LUDGERO ALMEIDA
"5 o'clock tea in the woods", acrílico e lápis de madeira sobre tela. 200x160cm, 2013 - Colecção privada
"Dog goD complex", acrílico sobre tela, 190x130cm, 2013
"Esfinge consumada", acrílico sobre tela, 130x195cm, 2013
"5 o'clock tea in the woods", tinta da china, aguarela e lápis de madeira, 30x30cm, 2013 - Colecção privada
"O jogo", acrílico sobre tela, 200x17cm, 2014
"The passengers", tinta da china, aguarela e lápis de madeira, 30x30cm, 2013
"O jogo IV", acrílico sobre cartão, 20x30cm, 2013
"A borda ou o consentimento", acrílico sobre papel, 30x30cm, 2013
"Esboço n. 3", tinta da china, aguarela e lápis de madeira, 30x30cm, 2013
"Procissão quebrada", acrílico sobre tela, 80x130cm, 2013
"O jogo II", acrílico sobre papel, 30x30cm, 2013
"4 musicians in Munster", tinta da china, guache, acrílico, lápis de madeira, 30x30cm, 2013
"Pequeno César, ensaio para os bons dias", acrílico sobre tela, 70x120cm, 2013
"O jogo", acrílico sobre papel, 30x30cm, 2013
"Sem-título", acrílico e lápis de madeira sobre papel, 76x56cm, 2015
PÁGINA SEGUINTE»
DIÓXIDO DE CARBONO E A LÂMPADA ESTROBOSCÓPICA 2014
Entre lampejos e visões
Olhar nem sempre é ver. Apegamo-nos à formatação das coisas. Aceitamos os seus contornos estáveis, a sua textura comum. Ficamos anestesiados às suas próprias presenças e já não as sentimos. Não as vemos para além do olhar mecânico rotineiro. Para Aldous Huxley o dióxido de carbono e a lâmpada estroboscópica ampliam a capacidade de ver, de olhos fechados. Criam experiências visionárias efêmeras, lampejos de visões. É como ver aquilo que nunca se olhou. E seríamos capazes de visionar a memória alheia? Mas, o que é a memória, senão flashes estroboscópicos da nossa vida? E de outros, afinal, nos nossos genes existe o passado, fielmente narrado. Como ser capaz de ler a genética das coisas?
É da experiência visionária, lampejante, que surge o “absurdo”, a quebra dissonante (na etimologia da palavra ab-surdus) com os automatismos que nos maquinizam. Avista-se, vislumbra-se, visiona-se, para não ser autômato. Dissonar torna-se uma maneira de compreender o mundo. Outra das faces da cognição que busca encontrar conforto não na negação do eu perante a corrente, mas no rompimento com a mecânica rotineira, reestabelecendo assim o grau de entropia: um eu perdido ou um eu encontrado? O conforto não é lógico, linear e redutor. É caótico, complexo e intuitivo.
É o atelier de trabalho de um pintor, que não se encerra no corpo de pintor. Utiliza corpo e mente de pintor, escultor, músico e escritor, metamorfoseando-se por entre aquilo que é e aquilo que será. Experimenta visões e aceita a condição de nomadismo iniciático que lhe conduz ao fundo de si mesmo, e lá encontra tantos outros. Visiona com a ajuda de Dostoievski, Camus, Artaud, Kafka, Schoenberg.
Produzem-se visões. Seja na linguagem que for, esta lá: a visão do absurdo.
Amanda Midori
Primavera de 2014