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DIÓXIDO DE CARBONO E A LÂMPADA ESTROBOSCÓPICA 2014

Entre lampejos e visões

 

 Olhar nem sempre é ver. Apegamo-nos à formatação das coisas. Aceitamos os seus contornos estáveis, a sua textura comum. Ficamos anestesiados às suas próprias presenças e já não as sentimos. Não as vemos para além do olhar mecânico rotineiro. Para Aldous Huxley o dióxido de carbono e a lâmpada estroboscópica ampliam a capacidade de ver, de olhos fechados. Criam experiências visionárias efêmeras, lampejos de visões. É como ver aquilo que nunca se olhou. E seríamos capazes de visionar a memória alheia? Mas, o que é a memória, senão flashes estroboscópicos da nossa vida? E de outros, afinal, nos nossos genes existe o passado, fielmente narrado. Como ser capaz de ler a genética das coisas?

É da experiência visionária, lampejante, que surge o “absurdo”, a quebra dissonante (na etimologia da palavra ab-surdus) com os automatismos que nos maquinizam.  Avista-se, vislumbra-se, visiona-se, para não ser autômato. Dissonar torna-se uma maneira de compreender o mundo. Outra das faces da cognição que busca encontrar conforto não na negação do eu perante a corrente, mas no rompimento com a mecânica rotineira, reestabelecendo assim o grau de entropia: um eu perdido ou um eu encontrado? O conforto não é lógico, linear e redutor. É caótico, complexo e intuitivo.

É o atelier de trabalho de um pintor, que não se encerra no corpo de pintor. Utiliza corpo e mente de pintor, escultor, músico e escritor, metamorfoseando-se por entre aquilo que é e aquilo que será. Experimenta visões e aceita a condição de nomadismo iniciático que lhe conduz ao fundo de si mesmo, e lá encontra tantos outros. Visiona com a ajuda de Dostoievski, Camus, Artaud, Kafka, Schoenberg.

Produzem-se visões. Seja na linguagem que for, esta lá: a visão do absurdo.

 

Amanda Midori

Primavera de 2014

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